Carta de Olinda

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Foto: Daniela Nader

 

Entre os dias 11 e 15 de novembro, a Associação Juízes para a Democracia esteve reunida para o seu Encontro Nacional, que ocorreu na cidade de Olinda-PE. O evento foi marcado pela comunhão entre associadas e associados, além da vivência com diversos movimentos sociais da região.

A agenda de atividades contou com visita à Ilha de Deus; local onde vivem diversas comunidades marisqueiras; Assentamento Normandia; organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; e assembleias para definir as próximas atuações da Associação.

Ao término do encontro foi divulgada a “Carta de Olinda”, um documento que reflete as experiências e aprendizados ao longo do evento e reafirma o compromisso da AJD na luta por uma democracia plena. “Nesses territórios nos abastecemos de esperançar para reafirmar nossos compromissos com a superação das desigualdades, com um sistema de justiça inclusivo e emancipador e com a luta incessante pela concretização da democracia”, destaca o texto.

A carta também salienta o momento de reconstrução democrática pelo qual passa o país e que o período de realização do encontro marca um reaprendizado do Brasil. “Estamos num momento de reconstrução em que todas as nossas forças devem ser direcionadas para a garantia dos direitos fundamentais e da retomada da cidadania”.

Abaixo leia a carta na íntegra:

Neste momento importante de resgate da democracia, reunida em Olinda, a AJD, coerente com sua história de defesa intransigente dos direitos humanos e do Estado Democrático de Direito, vem beber da fonte dos movimentos sociais.

Na Ilha de Deus, com a resistência, os saberes e as tradições das ribeirinhas e ribeirinhos, como minorias gigantes historicamente excluídas, aprendemos que somos a Natureza, num todo integrado, resiliente, em que cada ação impacta no delicado equilíbrio da rede da vida social e ecológica.

No assentamento Normadia, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, na cidade de Caruaru, aprendemos que a ação nasce do sentimento de indignação causado pela injustiça da ordem estabelecida pelas classes opressoras. Experimentamos que a luta só resulta em emancipação se organizada coletivamente. E que todos os pontos da cadeia produtiva devem trocar as cascas do individualismo e do mecanicismo e estar conectados à valorização do trabalho humano, como mecanismo garantidor de dignidade social. Essa articulação - ocupar, resistir e produzir - gera relevância e autonomia.

A tentativa não concretizada de encontrar o povo Xucuru, nos ensinou sobre as invisibilidades e os silêncios postos e repostos, de condições tão adversas que nos impediram mais esse aprendizado.

Em todas as vivências, reafirmamos nossa certeza da possibilidade real e transformadora da educação, como já nos ensinava Paulo Freire.

Vivenciamos que o trabalho gera pertencimento simbólico e real, honrando o papel desempenhado de cada um e dando significado para as subjetividades dentro da luta coletiva.

Nesses territórios nos abastecemos de esperançar para reafirmar nossos compromissos com a superação das desigualdades, com um sistema de justiça inclusivo e emancipador e com a luta incessante pela concretização da democracia.

Estamos num momento de reconstrução em que todas as nossas forças devem ser direcionadas para a garantia dos direitos fundamentais e da retomada da cidadania.

É para isso que estivemos aqui. Para reaprender o Brasil.

Olinda, 14 de novembro de 2022